Jardim Gonçalves e o Filho Pródigo

A história já é conhecida. Filipe Jardim Gonçalves contraiu uma dívida no BCP que ronda os 12 milhões de euros, devido a várias sociedades de que era accionista. Esta dívida foi considerada incobrável por Filipe Pinhal, actual presidente executivo do BCP, e por Alípio Dias, também pertencente à administração, devido à falência das empresas. Jorge Jardim Gonçalves, pai de Filipe, responsabilizou-se pelas dívidas do filho e estas foram ‘perdoadas’ pelos dois administradores.

Na praça pública, com os anúncios do BES do “se não tens pai rico” (e até parece que passam mais agora), foi motivo para algum escárnio. Claro que o que está em causa é mais do que os privilégios do berço de ouro. Jardim Gonçalves é actualmente presidente do conselho geral e de supervisão do BCP. As pressões de Joe Berardo e Teixeira Duarte, accionistas do banco, foram responsáveis pelas investigações por parte do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, ainda em curso.

À CMVM interessa saber se houve tratamento privilegiado de um accionista, se os créditos deveriam ter sido comunicados e se a sua contabilização está correcta. A investigação do Banco de Portugal prende-se mais com o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras. No artigo 85º, pode ler-se que “as instituições de crédito não podem conceder crédito, sob qualquer forma ou modalidade, incluindo a prestação de garantias, quer directa quer indirectamente, aos membros dos seus órgãos de administração ou fiscalização”. É também especificado o que se entende por ‘indirectamente’: “o carácter indirecto da concessão de crédito quando o beneficiário seja cônjuge, parente ou afim em primeiro grau de algum membro dos órgãos de administração ou fiscalização”. Esta lei entrou em vigor em 2002, após o empréstimo ter sido contraído mas antes da renegociação do mesmo. Na investigação do Banco de Portugal é averiguado se Filipe Gonçalves teria uma posição dominante nas empresas em causa, em que condições foi concedido o empréstimo, como foi possível que o banco tenha deixado que a dívida se acumulasse até àquele montante sem intervir, e se as empresas em causa tinham capitais próprios adequados ao financiamento. (fontes principais:Público, DN)

Há ainda outra questão que foi levantada com mais timidez e vem no seguimento do caso Teixeira Pinto, o aprendiz de feiticeiro a quem a grande conjura foi gorada. É expressa pela anedota popular que dá conta da resposta de Jardim Gonçalves quando interrogado sobre se teria dado dinheiro ao filho: “Ó, pus dei!”. É um bocado rebuscado procurar ligações entre este caso e a organização de inspiração católica, mas a aparente ligação no caso anterior ainda está bem presente. Neste caso, só se o episódio bíblico invocado pelo título tiver sido a principal motivação, já que Filipe Gonçalves parece preencher os requisitos. Mas eu só falo disto porque a Opus Dei me faz muita confusão. Se no caso da Maçonaria ninguém me convence que uma instituição que defenda realmente ideais nobres necessite de tanto secretismo, na Opus Dei há um duplopensar demasiado gritante que se torna particularmente evidente no caso de Jardim Gonçalves. Então não foi Cristo que disse que “dificilmente entrará um rico no reino dos céus”? E até especificou quão difícil: “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha”. Mas os católicos parecem viver bem com este paradoxo, basta ver o caso do papa.

Mas nem sequer é por causa da Opus Dei que falo disto. Acontece que sou cliente do BCP, esse banco que adoptou o nome parolo de Millenium. E que posso acusar a recepção de um código por telefone, mas não posso usar o mesmo telefone para impedir que me enviem o raio de um cartão que eu nunca pedi, e antes pelo contrário disse que não queria, e pelo qual me vão cobrar uma anuidade sem que eu alguma vez o tenha usado. Alguém me recomenda um banco?

1 responses to “Jardim Gonçalves e o Filho Pródigo

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    abraçoss

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